Presidente da AHOSP destaca na Gazeta de S. Paulo a necessidade de políticas para fixação de médicos no país

Artigo pelo Dr. Anis Mitri, cardiologista e presidente da AHOSP

Há décadas o Brasil repete um diagnóstico que parece lógico. O problema da saúde está na formação médica. Fala-se de currículos defasados, campos de estágio insuficientes, carência de professores experientes. Tudo isso é real, mas não é a raiz da crise. O fato é que o país continua sem médicos suficientes para atender sua população. Mesmo com a explosão de escolas de medicina e com o maior número de formandos da história, seguimos com extensas áreas desassistidas, prontos-socorros sobrecarregados e comunidades inteiras sem acesso a cuidados básicos.

A verdade é que formamos muitos médicos, mas não conseguimos mantê-los onde mais se precisa deles. As grandes capitais concentram a maioria dos profissionais, enquanto o interior e as periferias urbanas convivem com uma escassez crônica. Em alguns municípios, não há sequer um clínico geral disponível; em outros, faltam especialistas em áreas essenciais como pediatria, ginecologia e psiquiatria. Essa desigualdade territorial é, hoje, o principal gargalo da assistência médica no país. Algo que não se resolve com mais diplomas, mas com políticas eficazes de fixação.

Faltam, por exemplo, estratégias de incentivo que tornem o exercício da medicina viável fora dos grandes centros. Remuneração adequada, infraestrutura, segurança, oportunidades de desenvolvimento profissional e perspectiva de carreira são fatores decisivos para atrair e reter médicos. Sem isso, qualquer tentativa de redistribuição se torna temporária. A valorização da atenção primária, a criação de programas permanentes de residência e o fortalecimento das redes regionais de saúde poderiam ser caminhos mais consistentes do que o simples aumento de vagas em faculdades.

Ao mesmo tempo, é preciso garantir a qualidade da formação e da prática médica, inclusive com mecanismos de avaliação mais uniformes e transparentes, que assegurem padrões mínimos de competência e segurança para o paciente.

Mas esse debate precisa ser visto como complementar, não como substituto de uma política nacional de fixação. Um médico bem formado, mas desmotivado e mal remunerado, não permanecerá onde é mais necessário.

A insistência em culpar apenas a formação pelo desequilíbrio da assistência médica é uma forma de desviar o olhar do problema real e ignorar que o país ainda não conseguiu construir um modelo que valorize o exercício da medicina como um serviço essencial em todos os territórios. É preciso criar condições para que os médicos escolham ficar — e para que essa escolha faça sentido profissional, econômico e humano.

Falta médico, sim — e falta há muito tempo. Mas o que falta ainda mais é um projeto nacional capaz de distribuir esse recurso de forma justa, eficiente e sustentável. Sem isso, continuaremos formando profissionais em excesso nas estatísticas e em falta na vida real.

E essa contradição, que há anos custa caro ao sistema de saúde, só será superada quando o Brasil parar de discutir o número de médicos e começar a discutir onde — e como — eles decidem cuidar das pessoas.

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