
O sistema hospitalar brasileiro vive uma crise profunda e silenciosa. Hospitais filantrópicos, que historicamente sustentam boa parte da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), estão sobrecarregados, endividados e em risco real de colapso. Hoje, essas instituições são responsáveis por mais de 60% dos atendimentos realizados pelo SUS. Em muitos municípios, são a única porta de entrada para internações, cirurgias e atendimentos de urgência Mesmo assim, operam com uma remuneração muito inferior ao custo real dos serviços prestados. Uma diária de UTI, por exemplo, custa em media R$ 2.078, mas o SUS cobre cerca de R$ 1.600, e isso já considerando acréscimos temporários, que não resolvem o problema estrutural.
Essa defasagem não e novidade. O subfinanciamento da saúde publica no Brasil e crônico e, nos últimos anos, agravou-se de maneira preocupante. A inflação hospitalar, puxada por reajustes salariais, alta no preço de insumos, medicamentos
e tecnologias, não tem sido acompanhada por nenhuma atualização proporcional na tabela do SUS. O resultado é conhecido: dividas crescentes, salários atrasados, investimentos paralisados e risco concreto de interrupção nos atendimentos.
Não se trata de números frios ou má gestão. É uma crise que impacta, diretamente, a vida de milhões de brasileiros. Quando um hospital filantrópico fecha leitos ou suspende serviços, quem sofre são os mais vulneráveis, aqueles que dependem exclusivamente do SUS para cuidar da própria saúde. E esse cenário não se resolve com promessas futuras nem com medidas paliativas. É preciso coragem para encarar a realidade e agir de forma concreta
A regulamentação da Lei Federal 14.820/24, que prevê a atualização periódica da tabela do SUS com base em critérios técnicos e financeiros, é um passo fundamental, mas precisa ser efetivada com urgência. Além disso, é necessário criar mecanismos emergenciais de financiamento, como linhas de crédito acessíveis e repasses adicionais, para evitar que instituições que já operam no limite entrem em colapso.
Fortalecer a gestão hospitalar, ampliar programas de eficiência e incentivar parcerias público-privadas bem estruturadas também são caminhos importantes. Mas nada disso será suficiente se não houver, antes de tudo, o devido reconhecimento financeiro ao papel que os hospitais filantrópicos desempenham todos os dias no atendimento à população. Eles não são apenas prestadores de serviço, são pilares do SUS.
Na AHOSP, acompanhamos de perto essa realidade. Temos defendido, com firmeza, a valorização e o fortalecimento desses hospitais. É hora de tratar essa questão com a seriedade que ela exige. O futuro da saúde pública no Brasil passa, inevitavelmente, pela sustentabilidade dessas instituições. Cuidar dos hospitais filantrópicos é, acima de tudo, cuidar das pessoas.
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